O sistema do yoga é completamente norteado e embasado por seus princípios éticos, os yamas e niyamas; entre eles temos o ahimsa, a não violência.
Esse preceito se mostra importante em seus muitos aspectos, tanto os pessoais quanto os interrelacionais. Para termos paz, o contrário da violência, temos de desenvolver tolerância, paciência e gentileza, pois, em todas as relações, sejam familiares, profissionais ou de amizade, podemos perceber como a mera intenção de manter o bom comportamento pode não sustentar a calma por muito tempo devido a não se estar em paz internamente.
Por isso, a primeira pessoa com quem você tem de praticar ahimsa é consigo mesmo. Isso não significa ser condescendente, vitimado ou irresponsável. A solução está justamente na contramão disso tudo: fazer nossa autoanálise com a lupa do amor e respeito. Reconhecer as próprias dificuldades por um prisma amoroso nos permite recomeçar com nova força a cada dia. Se ontem não consegui fazer o meu melhor em algo proposto, hoje posso me esforçar para lapidar, até mesmo um pouco, aquele comportamento, pensamento ou sentimento, aperfeiçoando-me sem o peso da culpa e do retrocesso que dela decorre, podendo avançar de modo leve.
Perdoar-se e observar como ser melhor nos mostra a necessidade de tratar o próximo da mesma forma, sendo empático e generoso. Isso não é nada fácil, pois inconscientemente temos a tendência de projetar as próprias mazelas no outro e, por isto, queremos quebrar o espelho.
Vem daí a importância do exercício do autoconhecimento e a razão da existência de uma base ética no yoga que precede os asanas (posições do yoga), os pranayamas (exercícios respiratórios) e a meditação. Sem esse prévio esforço diário de “ser” melhor, buscando um caminho do meio entre o esforçar-se e o respeitar-se, e também entre dar o melhor de si e o reconhecimento dos seus limites como um ser humano passível de erros e enganos, a prática do yoga apenas no “tapetinho” pode mostrar-se infrutífera. Desde sempre ouvimos famosos dizerem ser a paz mundial o seu maior desejo, acabando por tornar o assunto algo simplesmente simbólico, corriqueiro, sem força no mundo presente. No entanto, esse tema é sempre atual, iniciando-se internamente, pois sem ter a paz dentro de nós, não temos como transportá-la para o global.
Sendo assim, se você deseja mais da vida, de si mesmo e do yoga, aproveitará essa sabedoria milenar em todo o seu contexto ao buscar o constante autodesenvolvimento como quem afina um instrumento musical, dosando autossuperação com autorrespeito, conjuntamente da resiliência e da capacidade de rir das próprias quedas. Assim, se tornará um ser humano melhor, um praticante de yoga para além do tatame, consciente da sua luz.
Namastê!
Silvia Oliveira